Bruno Duque

Abstração, do latim  ABSTRACTIO, de  ABSTRAHERE, “destacar, afastar de, puxar fora”, formada por AB- , com a noção de “afastamento”, mais TRAHERE, “puxar”.

Aproprio-me de pinturas abstratas de artistas conhecidos, para delas derivar uma nova abstração. Surgido no início do século XX, o abstracionismo resultou da intenção de artistas vanguardistas de se afastarem totalmente das referências visuais do mundo exterior, criando obras que representariam a si mesmas. Essas pinturas deixaram de competir com a fotografia no campo da representação de objetos visíveis, ao mesmo tempo que tornaram-se objetos fotografáveis. Cada obra passou a ter inúmeras versões impressas e digitais, sempre diferentes umas das outras. Desgastes e restaurações são apenas duas, entre inúmeras, evidências de que as obras mudam a cada momento, a cada ângulo, a cada olhar. Graças a suas “cópias”, a pintura deixou de ser “representação de si mesma”, passando a ser representação da variedade de imagens (e textos) que gerou. Apagar a pintura, não diminui sua existência, ao contrário, enriquece seu imaginário, agrega-lhe uma nova etapa, como atestado no “desenho apagado de De Kooning” por Rauschemberg de 1953.